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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Entrevista com o Psicanalista Carlos Medrano

Como nosso contato com o Sr. Medrano foi feito por meio da Psicóloga e Professora Universitária Juçara Clemens, pedimos a ela que abrisse essa entrevista com uma pequena apresentação de seu amigo e colega de profissão, ao que ela escreveu:

"A entrevista que a seguir apresentamos é com Carlos Medrano, Psicólogo e Psicanalista, que desenvolve suas atividades em Blumenau. Esse profissional estuda e oferece a possibilidade de estudos em grupos sobre a obra de Michel Foucault.
Na entrevista realizada pelo CAP vamos acompanhar o pensamento (ou a história) de Foucault através de Medrano". 
-Juçara Clemens- 

Gostaria que nos apresentasse agora um pouco da sua atuação profissional atual, fazendo uma relação da sua realidade atual com as expectativas que você tinha durante a graduação.
Atualmente trabalho como psicanalista e como professor em 3 instituições de ensino superior ( graduação e pós-graduação). Também como supervisor de psicanalistas em formação, coordenando grupos de estudo e, assessorando diferentes instituições públicas e particulares. Coordeno um projeto de extensão em andamento sobre Nascimento e Parto desde a perspectiva da Prevenção Quaternária e dois projetos que estão sendo implementados na FAMEBLU. Um sobre “Psicanálise: aquém e além da Clínica” e outro sobre “Medicalização da saúde em Blumenau e Região”. 
Estou fazendo o que eu gosto, fazendo coisas que desejei desde a graduação. Levou algum tempo a construção deste momento profissional. Profissionalmente sou bem parecido ao que imaginei naquele tempo, investimentos desiderativos e tesão (com todas as nuances de sentido) foram, são pilares sobre que estão construídos meu afazeres profissionais.

Carlos, por que Psicanálise? Quais características do pensamento psicanalítico foram mais decisivas na sua escolha de abordagem?
Cheguei a Psicanálise meio que de penetra. Pessoas de círculos íntimos conhecem esta história. Abro agora para vocês de forma resumida. Durante a minha formação escolar em Buenos Aires tive oportunidade de conhecer, estudar e ler no Segundo Grau diversos filósofos. Dentre eles, Sartre. Um dos textos que chamou minha atenção durante a adolescência foi “O ser e o Nada”.  Quando entrei na universidade defendia o “existencialismo sartriano” como corrente psicológica válida como teoria capaz de contribuir  diferentes formas de o sujeito se “desasujeitar”. Faço um parêntese aqui para ter cuidado de não confundir esse “existencialismo sartriano” de outras formas de “existencialismos light” que pouco tem haver com o existencialismo e ainda menos com Sartre que muitas vezes são oferecidos como escolas de formação. Fecho parêntese. Em Buenos Aires desde há muito tempo se respira Freud, se respira Lacan, Melanie Klein, Winnicott, os pais da psicologia social da argentina, Pichon Riviere e Bleger. Na universidade também apesar das interdições por parte dos militares e dos grupos reacionários e fascistas que proibiram e criticavam a Psicanálise durante os anos de obscurantismo. Eu mesmo criticava e discutia com professores e colegas a psicanálise. Minha fala era a fala de papagaio: repetia as críticas sem conhecer de primeira mão a psicanálise. Foi assim que no final do segundo semestre tive a oportunidade de comprar as obras completas de S. Freud. Dediquei todo aquele verão a ler, minhas férias foram ler ludicamente Freud. Brigar com ele, concordar com ele, conversar com esses textos. À medida que ia me adentrando na leitura fui descobrindo que a psicanálise oferecia uma forma mais aprimorada, não por isso mais completa (palavra esta perigosa para qualquer teoria), sobre a constituição subjetiva, sobre a possibilidade não de encontrar respostas senão pela possibilidade de formular novas perguntas. Acredito que a escolha por esta abordagem tem muito mais a ver com os questionamentos que com as respostas que possa ter encontrado. Então, entrei no terceiro semestre do curso de psicologia decidido a aprofundar meus conhecimentos em psicanálise e comecei minha formação dentro da Escola Francesa, minha análise pessoal e assim por diante fui configurando essa escolha.       

Na sua opinião, a psicanálise ainda é sinônimo de Psicologia clínica? Existe possibilidades de intervenções eficazes em outras áreas que demandem talvez uma psicoterapia breve, como é o caso da hospitalar? Como a Psicanálise acompanha o surgimento de demandas de características mais urgentes de intervenção?
O Projeto: “Psicanálise: Aquém e Além da Clínica” propõe refletir e levantar as múltiplas possibilidades que a psicanálise oferece não somente no campo da clínica senão também no que alguns chamam de psicanálise em extensão. Santa Catarina em particular, e aqui acho que há um campo interessante de pesquisa, historicamente não incorporou estas outras possibilidades da psicanálise. Ainda hoje convivemos com o preconceito de uma psicanálise burguesa, criticada por esquerda ou de uma psicanálise “não científica” criticada por direita. Falsamente se tenta criar oposições radicais fundamentalmente  em relação à psicologia social e comunitária. Há no Brasil muitas experiências de trabalhos na Saúde Pública, nos Hospitais, nas comunidades e organizações de todo tipo. Obviamente não vão pretender que a partir dessas intervenções desde a perspectiva psicanalítica tenhamos sujeitos ou instituições adaptados, dóceis e disciplinados. A psicanálise não foi criada para isso. Uma aprimorada leitura de Foucault (embora ele tenha tido em vários artigos críticas à psicanálise) nos leva a concluir que talvez seja a psicanálise o discurso do campo “Psi” que mais se aproxima a esse sujeito capaz de cuidar de si a partir de uma ética da existência. Ao mesmo tempo temos um sujeito pensado a partir da psicanálise capaz de subverter o instituído, capaz de construir instituintes. Por outro lado a possibilidade de trabalhar desde uma perspectiva psicanalítica em instituições hospitalares, educativas ou em estratégias de “consultas avulsas” podendo levantar o que é da ordem do inconsciente e do desejo facilita a construção de dispositivos nesses âmbitos de intervenção. Durante muito tempo nós psicanalistas ficamos presos a formas que poderíamos chamar de “super-egoicas” onde tudo estava proibido. Embora desde Freud, passando por Winnicott, Lacan, Mannoni, Doltó e depois os “deconstrutivistas”, criaram formas que ainda hoje, muitos que mantém uma relação do tipo religiosa com a igreja psicanalítica propõem uma espécie de inquisição aos que se atrevem e ousam pensar alternativas ao rito psicanalítico. A psicanálise na qual trabalho é da ordem do Mito, é da ordem do brincar e não da ordem do jogo.      

Foucault pra nós é um autor à parte. Sua crítica sempre ácida e pertinente  e a constante denúncia das relações abusivas e furtivas de poder presentes no seu pensamento conquistaram os membros de CAP de tal forma que decidimos homenageá-lo nomeando nosso Centro Acadêmico com o seu nome. A identificação das lutas estudantis com as idéias de Foucault são inevitáveis, essa é nossa história com Michel Foucault. Qual a sua história com o autor?
Chego a Foucault por dois caminhos que se concretizam em termos de produção acadêmica e intelectual quando da minha chegada ao Brasil em 2000. O primeiro caminho coincide com a formação em psicanálise. Nesse momento Foucault estava presente não de forma explicita. Estou falando da década de 1970, 1980. O segundo caminho foi durante o mestrado em saúde pública na UFSC sob a orientação da Dra Sandra Caponi. Com ela tive a primeira oportunidade de produzir um texto que acabou sendo meu primeiro livro: “Do silencio ao brincar. História do presente da saúde pública, da psicanálise e da infância”. Essa pesquisa foi o primeiro intento de articular a Psicanálise e alguns conceitos elaborados por Foucault em torno do brincar. Em seguida iniciei meu segundo mestrado focado na história da saúde desde a perspectiva foucaultiana num intento de escrever uma genealogia de algumas práticas hospitalares e novamente relacionando operadores conceituais desde a perspectiva psicanalítica e foucaultiana. Em 2006 começo formalmente meu doutorado decidido a investir nos efeitos foucaultianos e de outros autores como Agamben, Derrida, Espósito. Da mesma forma em que Michel Foucault define seu trabalho, como estando entre a filosofia e história, escrevo um ensaio denunciando a higienização e medicalização do brincar. Resumidamente esse é o percurso que tenho com Foucault, seus escritos e, fundamentalmente, a prática militante pelas diferentes formas de resistência ao instituído, como forma de “cuidado- de mim”.

Como Foucault está para a Psicologia? Que contribuições para a prática psicológica podemos encontrar num arcabouço teórico com base no autor?
Bom... Para começar diria que Foucault não está para a Psicologia... E a Psicologia ainda menos com Foucault. Se for para ser curto e grosso a grande contribuição é a da necessidade de desconstruir a psicologia pensada e criada a partir das práticas normalizadoras, classificadoras, disciplinarizadoras e de todos os dispositivos construídos a partir de saberes psicológicos ao serviço do biopoder e do controle das populações.

Por último, tenho a certeza de que esta é a dúvida de muitos acadêmicos aspirantes a psicanalistas. Poderia por favor Carlos, esclarecer de forma breve o melhor caminho para o acadêmico que deseja iniciar uma formação psicanalítica depois de  graduado?
Não há melhor caminho a não ser o do desejo de ser psicanalista. E esse caminho não começa necessariamente depois da graduação. Podem começar pela via da análise pessoal, estudando em grupos de estudo, cursos de extensão... Sempre levando em conta que não há psicanalista formado. Tempos de ter cuidado para não cair na lógica acadêmica em relação à psicanálise. A relação psicanálise e universidade é muito complexa. A lógica do tempo acadêmico (antes, durante, depois) não é a lógica do inconsciente, instrumento de trabalho do analista. Conseqüentemente quem quiser iniciar sua formação, sugiro, se aproxime a seu desejo...      

O CAP, humildemente falando por todos os acadêmicos de Psicologia da Fameg - Uniasselvi, agradece ao profissional Carlos Medrano pela disponibilidade e pela riqueza de sua contribuição, estamos certos de que  novas perspectivas sobre a Psicanálise serão possíveis após a leitura desta entrevista.
Um obrigado também a professora Juçara que intermediou o contato e tornou de certo modo possível esta importante entrevista.

Abraços de todos,

Rosina Forteski,

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Lançamento da Primeira Festa Inter Turmas produzida pelo CAP

O CAP realizará no fim de março, em data e local ainda a se confirmar, uma festa inter-turmas. O primeiro passo é determinar o tema da festa, para tanto fizemos uma enquete no blog. A festa terá tema, mas serão bem-vindos igualmente quem optar por não se fantasiar. Por favor votem no blog, à esquerda da tela.

O objetivo do evento é integração e é claro, diversão!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Indicação de livro - Professora Janiane Pietsch

Esmeralda
Por que não dancei
Hoje quero indicar à vocês um livro que não é de Psicologia mas que em MUITO pode contribuir para a nossa atuação profissional.
Conta a história de sofrimento, envolvimento com drogas, abuso sexual, vivência de rua, ato infracional...
Fala também das medidas socioeducativas, do tratamento ao usuário de drogas e da importância do trabalho intersetorial.
E, no meu ponto de vista, o principal: fala do investimento (não no sentido financeiro!) da equipe que acompanhou esta menina-mulher e da possibilidade que a mesma teve de reconstruir a sua história!
Ser profissional de psicologia implica investimento no sujeito!

 Janiane é Psicóloga e Professora de Psicologia Social

Primeira Calourada Elaborada pelo CAP

A primeira noite dos calouros promovida pela CAP foi um sucesso, devemos isto a muitas pessoas, em especial aos padrinhos, mas também aos calouros, veteranos e professores que estiveram presentes.
Fotos do evento no perfil do Orkut.
Valeu pessoal!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Entrevista com o Psicólogo Clínico Rafael Gomes e Souza Zunino

       Psicólogo clínico formado na Universidade Federal de Santa Catarina. Analista de Sistemas, formado na Universidade Regional de Blumenau.  Possui formação básica em Gestalt-terapia pelo Instituto Gestalten e é especializado em Gestalt-terapia pelo Instituto Müller Granzotto.


Rafael, peço que você nos apresente, em um primeiro momento, o Rafael "sujeito comum", descrevendo talvez hobbies e atividades afins de sua preferência, à parte da Psicologia.

Bom, antes de me formar em Psicologia, fiz a faculdade de Ciências da Computação, na FURB. Essa primeira escolha foi pela afinidade com informática, eletrônicos e tecnologias em geral. Apesar de não trabalhar nesta área, estou todo dia a par das novidades. Tenho um lado “nerd” bem estabelecido hehehe. Sou viciado em cinema e literatura; acompanho várias séries, assisto muitos filmes e estou sempre lendo uns três livros ao mesmo tempo – isso tudo faz parte da minha rotina. Me interesso por histórias e aprecio quando bem contadas, seja lá qual for a forma de expressão. Também gosto muito de viajar, conhecer lugares diferentes. Quando não estou numa fase sedentária, jogar futebol é um grande prazer. E, para terminar, sou apaixonado por música. Desde criancinha tenho proximidade e intimidade com sons. De vez em quando toco um violão. É interessante que não tenho o hábito de ouvir músicas todos os dias. Mesmo assim, música vai ser sempre muito importante para mim.

Rafael, pode nos contar um pouco sobre sua formação acadêmica e sobre suas expectativas durante seus anos de curso relacionando com as demandas teóricas e práticas encontradas na sua atuação profissional após a graduação?

Como disse anteriormente, sou bacharel em Ciências da Computação, trabalhei 2 anos e meio na área (programador) e, por estar descontente com a prática, fui espairecer ingressando na graduação de Filosofia, na UFSC. Até então, eu nem cogitava a Psicologia – como profissão ou como usuário em potencial dos serviços disponíveis. Devido ao nome atrativo de uma disciplina (Psicologia da Comunicação), resolvi fazer uma cadeira optativa no curso. Rapidamente me apeguei pelos colegas do curso e o curso foi me instigando e mexendo comigo. Aí prestei o vestibular e passei. O curso, em geral, me decepcionou. Tanto a academia em si quanto o currículo. Com certeza teve seus bons momentos. Cada universidade tem sua estrutura curricular, claro. No caso da UFSC, a grade era muito fragmentada. Não conseguimos nos aprofundar em abordagens nem em campos de atuação específicos. Só para exemplificar, Psicanálise era uma salada. Professores com formações diferentes, que não conversavam entre si, a fim de melhor educar. Nós simplesmente assistíamos uma aula cujo aporte teórico era Freud, outra era Melanie Klein, outra Bion, e assim por diante. Praticamente uma nação com vários idiomas que, mesmo que tenham um parentesco, no final a pequena diferença de perspectiva influencia na intervenção. Não havia uma amarração e/ou leitura crítica. Este era o panorama do curso. Eu esperava sair pronto do curso; essa é a verdade. Ingenuidade da minha parte. Passei 5 anos no meio de um corpo docente desunido, com interesses particulares. Cada um vendendo seu peixe. A academia, como muitos outros setores, também é envenenada pelo capitalismo. Resultado: nós alunos dificilmente temos uma formação crítica, politizada e com aprendizados epistemológicos. Esta base é necessária desde o primeiro dia de aula. Senão os alunos simplesmente seguem o fluxo da máquina de fazer profissionais alienados; os poucos que conseguem enxergar e abrir os olhos dos colegas, são rechaçados e rotulados como reacionários. Ficam sem força e fazem sua trajetória mais a parte. Não é a toa que estamos à mercê de atos médicos da vida. Eu só fui perceber tudo que estava acontecendo mais ao final do curso. E a estrutura da academia não facilita em nada promovermos mudanças. É comum surgir um movimento interessante, mas depois de um tempo perder a força. Resolvi seguir a carreira de clínico depois da metade do curso. Meu estágio neste campo de atuação foi na atenção primária, pois acho que é o mais completo. Você aprende a clinicar, a conversar com outros profissionais da área de saúde, a estar por dentro das políticas de Saúde e Psicologia e a lidar com pessoas de diferentes classes sociais. Mesmo com 1 ano de estágio, saí do curso me sentindo bem despreparado. E percebi isto na prática quando comecei a atender em consultório. Graças à especialização (de 3 anos em clínica), supri minhas dúvidas e passei a realmente acompanhar, escutar direito a pessoa que me procurava. A Psicologia da UFSC é uma boa faculdade. Sei que as decepções que tive, provavelmente as encontraria em outras instituições de ensino superior. De qualquer modo, tem a parte do aluno. Do interesse em estudar, ir atrás, de abrir e se encontrar nas “portas” que a formação nos mostra. E quanto a este “se encontrar”, a idéia de uma psicoterapia ou orientação com viés psicoterapêutico desde o início da graduação é fundamental... aliás, não sei por que isso não é óbvio...


Parece ser uma tendência muito forte hoje a opção pela atuação clínica pelos psicólogos, manifestada          inclusive, pelo que podemos perceber em sala, já no decorrer da graduação. Você poderia arriscar  apontar possíveis aspectos da área que favoreçam essa predileção dos profissionais?

Minha realidade foi diferente. A maioria dos colegas ou se envolveu com a pós-graduação, almejando o título e uma vaga na docência, ou seguiu carreira organizacional pela quantidade de vagas que vêm surgindo, ou prestou concurso para alguma prefeitura, que recentemente tem se mostrado ser um bom negócio. Em nenhum momento do meu curso, EM NENHUM MOMENTO, escutei professores comentando sobre a dificuldade inicial de abrir um consultório, dos gastos iniciais, do tempo que leva para se estabelecer. Na graduação cabe muito bem uma disciplina de empreendedorismo. Me arrisco a dizer que se há uma predileção pela clínica, isto pode se dever à curiosidade pelos enigmas da vida, ou ao efeito de ocupar este lugar singular. Eu não sei como estão os alunos hoje em dia, mas sei que é comum entrar na faculdade com poucos dados sobre os campos de atuação escolar e organizacional. O lugar costumeiro é a clínica. E na prática, o psicólogo organizacional vez por outra tem suas funções logradas pela área de administração e o escolar ainda não se consolidou como prática comum. E ainda, a clínica, particular, é a que mais proporciona, quando bem sucedida, salários acima da média. Também existe a questão das pessoas estarem se informando mais, tirando da Psicologia o estigma “para louco” e a aceitando como um eficiente dispositivo para amenizar os efeitos colaterais da sociedade: stress, L.E.R., transtornos alimentares, hiperatividade, depressão, etc. Bom, ainda há outros pontos de vistas para se analisar, mas acho que vai ficar muito longo.


Gostaríamos que nos falasse um pouco da abordagem que você utiliza na clínica, observando talvez quais os pontos fortes dela que suprem suas demandas profissionais.

Sou gestalt-terapeuta. Fiz a especialização e minha psicoterapia nesta abordagem. O primeiro ponto forte foi ter me identificado com a Gestalt. Ou seja, conheci, gostei e continuei me interessando. O viés fenomenológico inerente que me possibilita uma visão específica da realidade, do encontro no consultório, me deixa seguro e continuamente aprendendo e crescendo. Consigo atender as pessoas sem enquadrá-las numa categoria, sem dar nomes sintomáticos. Não preciso ser ultra-intelectual-analista nem deixar de ser eu mesmo. Ou melhor, eu posso ser totalmente eu mesmo. Me descubro e me reinvento com cada consulente (é assim que chamo o ‘cliente’), assim como tento proporcionar um ambiente seguro e confortável para que possa ocorrer o mesmo com eles. Aprendi a respeitar, dar suporte e estar ali, na sessão, sem julgar ou colocar meus desejos na frente dos do consulente. Foi o melhor começo de aprendizado que eu poderia ter tido, e vai continuar sendo a maior base.

Rafael, na sua opinião, existem fenômenos psicológicos os quais a clínica ainda não consegue prestar a devida assistência? Neste caso, em que aspectos da atuação clínica os profissionais em exercício precisam de uma formação mais consistente ou de uma atuação mais responsável?      

Pergunta importantíssima. É imprescindível continuar sempre estudando, aprendendo, investigando. Para exercitar e desenvolver uma leitura crítica cada vez mais aguçada e facilitar a articulação de saberes. Não menos importante é que todo psicólogo clínico deveria fazer o seu processo psicoterapêutico, a sua terapia. Não importa qual abordagem e, sim, passar por esse processo único de vários encontros consigo mesmo... esse momento de assumir a responsabilidade pelos próprios atos tendo em vista que estamos sempre para o outro, para o mundo. A nossa história de vida, de experiências nos acompanhará até o nosso fim. Como podemos ouvir alguém se não nos ouvimos? Se não estamos em paz com nós mesmos? Como podemos cuidar de alguém genuinamente se não nos cuidamos? Não há verdades absolutas. Apenas perspectivas de se traduzir a realidade. As palavras, o discurso, são limitados; vãs tentativas de se compreender aquilo que não é capturado pela razão. E é por isso que sempre existirão fenômenos psicológicos que questionarão o que foi normatizado. É um importante requisito caminhar amigavelmente com a dúvida. A construção de uma teoria ainda se faz necessária, pois a sociedade ainda não tem estrutura nem consegue conviver com a angústia da não-explicação. É bom conhecer as várias abordagens e dar voz a elas. Outro ponto: reparem como nosso corpo é negligenciado, como somos desatentos aos diversos sinais – que chamamos de sintomas – que ele nos dá. Depositar a confiança nas reações corporais, identificar a sabedoria inextricável e simples que nos acompanha desde pequeninos é um aprendizado bem revelador. No final de contas, uma atuação mais responsável é aquela em abrimos mão dos nossos achismos quando nos sentimos perdidos. Psicoterapia-supervisão-estudos.

O CAP agradece a disposição do psicólogo Rafael, cujos depoimentos aqui com certeza foram muito produtivos e devem preencher muitas dúvidas de muitos acadêmicos principalmente sobre a prática clínica.


Por Rosina Forteski

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Campanha Adote um Calouro 2011!


O CAP propõe como parte da recepção dos calouros do primeiro semestre de 2011 a campanha "adote um calouro"!
 Explicamos: um veterano, de qualquer fase, adota um calouro e se torna sua referência no curso para tirar dúvidas e auxiliá-lo na sua nova caminhada acadêmica,
pensamos que esta relação proporcionará ao calouro uma entrada no curso mais confiante e com um melhor direcionamento, proporcionando ainda a comunicação entre turmas,
será igualmente benéfico então tanto para o calouro, quanto para o seu padrinho!
Contamos com candidatos, passaremos as listagens nas salas no início das aulas.
Os padrinhos serão convidados para um café inaugural que ocorrerá possivelmente na segunda semana de aula.