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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Compartilhando artigos: Gean Ramos

UMA CAMINHADA PELA LOUCURA ATRAVÉS DOS TEMPOS

INTRODUÇÃO

O tema da loucura, e do sujeito dito louco, é abordado nesse trabalho de forma histórica, considerando alguns dos principais movimentos e pensadores ligados ao tema. Assim como, as reformas ocorridas no campo da saúde mental ao redor do mundo e o desfecho dessas mudanças de paradigma nas políticas públicas de saúde aqui no Brasil.


O DITO LOUCO ATRAVÉS DOS TEMPOS

A visão que os estudiosos em saúde mental têm do indivíduo dito “louco” nos dias atuais é resultado de uma longa jornada de reflexões e movimentos sociais e políticos ocorridos no decorrer da história. Muitos foram - e infelizmente ainda o são em alguns casos - os métodos utilizados para classificar, “tratar”, e de forma geral lidar com esses sujeitos através dos tempos. Na maioria das vezes métodos cruéis, sem a obtenção de resultados que proporcionassem uma melhora para a condição de vida desses sujeitos, muito menos sua (re)integração ao grupo social; respondendo apenas a uma lógica higienizadora de cidades. Muito se pensou acerca do tema da loucura, e muitas formas de interpretar esse tema foram elaboradas. Pereira (2002) coloca que quando tentasse conceituar loucura geralmente o que se leva em conta é a idéia de que tais sujeitos compreendem um desvio dos padrões normais de conduta; enfatizando que tal concepção sempre é embasada em uma comparação entre o normal - o racional e saudável - em contraponto ao louco, ao doente mental. O mesmo autor propõe que a classificação da doença mental está intimamente ligada aos padrões de conduta e regras estabelecidos para uma determinada cultura, em determinada sociedade. Em resumo, Pereira diz que o que é considerado loucura aqui, em nossa sociedade ocidental, pode ser considerado um dom divino em alguma outra cultura, por exemplo, as que possuem um chamã como sendo um líder espiritual de grande importância para aquele povo. “[...] dizer que há modelos sociais de loucura significa que o indivíduo não enlouquece segundo seus próprios desígnios, mas segundo um quadro previsto pela cultura da qual é membro” (PEREIRA, p. 29, 2002).
      No âmbito histórico podem ser apontados alguns períodos e lugares onde iniciaram os processos de institucionalização e exclusão de uma grande quantidade de personagens sociais, tais como: alquimistas, portadores de doenças venéreas, libertinos de toda espécie e mendigos. Enfim, todos aqueles que estivessem fora dos padrões concebidos e aceitos pela classe dominante da época. Na França, por exemplo, em meados do século XVII, inicia-se essa separação entre os possuidores da razão e os ditos loucos, ou todos aqueles que poderiam por em jogo as proibições sexuais e religiosas vigentes. A loucura é aprisionada sobe o julgo da razão, e é através do olhar mecanicista proposto por essa razão vigente que a loucura será apontada como doença, defeito e falta.  Segundo Foucault (1972), a forma pela qual eram tratadas doenças como a Lepra, que excluíam o indivíduo do meio em que vivia por temê-lo, foi um dos fatores que fizeram surgir mais tarde a idéia de que existe uma necessidade de internação, de exclusão do dito “louco” do ambiente social em que ele vive.
Nessa época em que a igreja possuía os poderes e ditava a verdade, as doenças eram consideradas castigos divinos, e as graças suas bênçãos. A exclusão do individuo portador da “doença” era considerada uma forma de salvação, uma benção, já que assim, ele teria a chance de redimir-se dos seus pecados (FOUCAULT, 1972).
É difundido nesse período a idéia de que os loucos, ou qualquer outro sujeito que não fosse considerado “normal” deveriam ser isolados do restante da sociedade, para que assim fosse garantida a segurança no meio externo ao manicômio, satisfazendo a vontade da classe burguesa com o poder dominante naquele período (PEREIRA, 2002).
            Pereira (2002) aponta ainda que, até o século XIX é aplicada uma forma dominante de conhecimento, que é a do saber psiquiátrico, da razão estreitamente dominadora no campo da loucura, e essa razão dominadora - se pensava - era a única hábil e responsável para lidar com os “insanos” que lotavam os asilos.
Após esse período de total dominação do saber psiquiátrico sobre a loucura, já no final do século XIX e inicio do século XX, começam a surgir pensadores do próprio campo da medicina e também da filosofia que, propunham um novo olhar sobre a forma de lidar com o tema da loucura e com os próprios sujeitos que eram acometidos de sofrimento psíquico. Podemos citar Freud, quando demonstra que ao nível individual toda produção mental tem um sentido, consciente ou não.
Pensadores como Franco Basaglia, que foi muito influente para o movimento de transformação da pratica no âmbito da psiquiatria, principalmente no que diz respeito à luta contra a institucionalização, e da ênfase na consciência das transformações resultantes da pratica efetiva de luta nos campos político e social (AMARANTE, 1994).
Franco Basaglia foi um dos grandes responsáveis pela luta anti-manicomial. Alguns de seus objetivos eram (AMARANTE, 1994): A luta contra a institucionalização; A luta contra a tecnificação, para que não sejam criadas com isso, novas técnicas de intervenção para substituírem as já existentes e combatidas; A invenção e constituição de uma relação de contrato social; A difusão da idéia de que a consciência das transformações advém da prática efetiva de luta nos campos político e social.
Principalmente nas décadas de 70 e 80, começaram a surgir em todo o mundo movimentos chamados de Novos Movimentos Sociais (NMSs). São movimentos que tem por principal objetivo denunciar as formas cotidianas de opressão. De forma geral, os NMSs contribuíram para a valorização da subjetividade, das diferenças, da cidadania e da emancipação, indo contra a idéia de regulação e padronização social (GUIMARÃES, et al. 2001).
A partir daí então foram aprovadas as portarias 189/91 e 224/92, viabilizando assim que o sistema único de saúde (SUS) possa financiar vários procedimentos de atenção em saúde mental que fossem substitutivos ao modelo hospitalocêntrico, manicomial. Integrando ao SUS, estão os CAPs (centros de atenção psicossocial), assim como os NAPs (núcleos de atenção psicossocial) que, regulamentados pela portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002, reconheceu e ampliou o funcionamento e a complexidade dos CAPS, que têm a missão de dar um atendimento diuturno às pessoas que sofrem com transtornos mentais severos , oferecendo cuidados clínicos e de reabilitação psicossocial (BRASIL, 2004).


CONSIDERAÇÕES

Bom, finalmente o dito “louco” chegou a um lugar sem camisa-de-força ou eletro-choque, sem água gelada na cara ou imundices, sem sofrimento de toda espécie, mas, será mesmo que ninguém ficou pelo caminho? Será que todo o sofrimento cessou? A caminhada foi longa, as vitórias foram muitas, porém, infelizmente ainda existem lugares onde a loucura ainda não cessou, pois a loucura nesses locais é realimentada a cada instante, no isolamento, no esquecimento, na simples e cruel condição de ser mais um excluído do convívio com aqueles, que autodenominando-se “normais”, e se esquecem que é dever de todos lutar para a melhoria continua das condições de vida, não somente a própria, mas também a do outro, pois afinal de contas somos todos humanos e merecemos igualmente um tratamento digno e de respeito.
O papel do profissional de saúde mental nesse sentido é o de promover junto à população, um trabalho de reinserção social dos usuários, dos “loucos”. Isso permitindo a tais o acesso ao trabalho, lazer, direitos civis e fortalecimento das relações familiares e na comunidade onde vive.


REFERÊNCIAS:

AMARANTE, Paulo. Uma aventura no manicômio: a trajetória de Franco Basaglia. Hist. cienc. saude-Manguinhos,  Rio de Janeiro,  v. 1,  n. 1, Out.  1994 .   Disponivel em: . Acesso em: 17  abril.  2011.  doi: 10.1590/S0104-59701994000100006.

AMARANTE, P.; TORRE, E. H. G. A constituição de novas práticas no campo da Atenção Psicossocial: análise de dois projetos pioneiros na Reforma
Psiquiátrica no Brasil. Rer. Saúde em debate, Rio de Janeiro, ano XXV v.25 n.58 maio/ago. 2001. Disponível em:<http://www.cebes.org.br/media/File/publicacoes/Rev%20Saude%20Debate/Saude%20em%20Debate_n58.pdf#page=7>. Acesso em: 18 abril. 2011.

BRASIL. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério  da Saúde, 2004.

FOUCAULT, M. A história da loucura na idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 1972.

GUIMARÃES, et al. Desinstitucionalização em Saúde Mental: considerações sobre o paradigma emergente. Rev. Saúde em debate, Rio de Janeiro, ano XXV v.25 n.58 maio/ago. 2001. Disponível em:

PEREIRA, J. F. O que é loucura. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 2002.




Gean é aluno de Psicologia do quinto semestre.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Primeira Caminhada em prol da Luta Antimanicomial de Jaraguá do Sul

O CAP apoia esta marcha!

Promovida pelos Profissionais de saúde mental de Jaraguá do Sul

18 de maio de 2011

Saída do CAPSad de Jaraguá do Sul às 10:30h,

Chegue um pouco antes e ajude na organização.

no antigo endereço do CTA, Rua João Pícolli, 488, Centro.


Ajude a construir essa Marcha!

TEMA:
“Aqui eu Moro,
Aqui eu Cuido e Quero ser Cuidado”.

Vamos participar pessoal. A marcha vai sair do CAPSad e passar pelo CAPS I. Podemos fazer faixas e cartazes com dizeres do tipo: A Psicologia apoia a luta antimanicomial (ou os estudantes apoiam...). Iremos com a camiseta do CAP pra dar uma identidade (ou pode ser aquela da semana de Psicologia do semestre passado). A presença dos acadêmicos vai dar uma representatividade importante ao movimento.É uma chance de sair do discurso!

Compartilhando artigos: Karin Beskow


INCLUSÃO SOCIAL E ESCOLAR DE PORTADORES DE DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA: a questão das representações sociais dos professores de escolas públicas

INTRODUÇÃO

            Este trabalho tem como objetivo abordar as representações sociais de professores de escolas públicas em relação à inclusão social e escolar de alunos portadores de deficiência múltipla.
Segundo o MEC (citado por Silveira, Neves, 2006) a inclusão escolar do deficiente múltiplo é um fato muito recente na educação brasileira. Vygotsky (citado por Prado, Marostega, 2010) afirma que “o ser humano cresce num ambiente social e a interação com outras pessoas é essencial a seu desenvolvimento”. A criança com necessidades especiais precisa desta interação para se desenvolver de maneira adequada, para que estas interações sejam propulsoras de mediações e conflitos necessários para o desenvolvimento pleno do indivíduo e para a construção dos processos mentais superiores. (SILVEIRA, NEVES, 2006).
Serão abordados alguns conceitos a fim de melhor entender as representações sociais dos professores com relação à inclusão social e escolar, será abordado o conceito de inclusão social e escolar, a definição de deficiência múltipla e de representações sociais.
           
CONTEXTUALIZAÇÃO

            A luta pelos direitos das pessoas portadoras de deficiência iniciada na década de 80, fez com que a prática da inclusão social se tornasse mais presente, porém notou-se que a integração era insuficiente para o contexto em que se vivia; com isto considerando que a diferença está ligada ao ser humano e a considerando como algo natural em que cada ser pode usar os seus direitos coletivos na sociedade, surge um novo conceito chamado de inclusão. (PRADO, MAROSTEGA, 2010).
            O conceito de inclusão social é um processo em que a sociedade se adapta para que possa incluir nos seus sistemas sociais as pessoas com necessidades especiais e ao mesmo tempo estas se preparam para assumir os seus papéis na sociedade. (SASSAKI apud PRADO, MAROSTEGA, 2010). Portanto incluir os portadores de necessidades especiais é torná-los participantes da vida social, política, econômica e educacional garantindo o respeito de seus direitos em todos os âmbitos.
            A deficiência múltipla é caracterizada pela associação de duas ou mais deficiências, seja física, mental, sensorial, psíquica ou emocional, porém não é apenas esta associação que vai caracterizar a deficiência múltipla, e sim o nível de interação social, de desenvolvimento e aprendizagem destes sujeitos. (AACD, et. al., 2006).
            “O desempenho e as competências dessas crianças são heterogêneos e variáveis”. (AACD, et. al., 2006, p. 11). Alguns alunos portadores têm maiores possibilidades de adaptação e são mais facilmente inseridos em escolas de ensino regular através da adaptação curricular destas instituições, outros, porém que tem mais dificuldades e podem necessitar de apoios intensos e contínuos, processos diferenciados de ensino, e alteração no currículo escolar a fim de atender as necessidades da classe comum. (AACD, et. al., 2006).
            Para que esta criança possa ter um bom desempenho é necessário que os professores estejam capacitados e preparados para lidar com as dificuldades apresentadas. Porém para que este processo de aprendizagem possa ser realizado de maneira correta é necessária a presença do psicólogo, o qual deve estar presente na escola e instituições em que este indivíduo será inserido a fim de trabalhar conceitos e pré-conceitos já formados ou adquiridos pela sociedade. Além disto, é de responsabilidade do psicólogo trabalhar junto com a equipe pedagógica / educacional, ajudando e orientando para que a realização de um trabalho em equipe possa promover o desenvolvimento e socialização da criança com deficiência múltipla. (NOGUEIRA, 2007).
            Estes conceitos da vida cotidiana a respeito da inclusão social podem ser definidos como a representação social sobre a inclusão. A representação social pode ser caracterizada como um conjunto de conceitos da vida cotidiana, que são mitos e crenças tradicionais da sociedade e também podem ser chamados de senso comum. (MOSCOVICI apud JAQUES, 1998).
            Existem vários elementos que estão presentes na noção das representações sociais (RS) onde Guareschi (citado por Jaques, 1998) afirma que as RS são sociais e que estes elementos que são aspectos culturais, cognitivos, ideológicos e valorativos estão presentes nos sujeitos e objetos. Contudo podemos dizer que quem melhor conceituou as RS foi Jodelet (citado por Jaques, 1998), que definiu as RS como uma forma de conhecimento que é elaborada e compartilhada socialmente a fim de construir uma realidade comum para o conjunto social.
            De acordo com a pesquisa realizada por Silveira e Neves (2006), sobre a representação social dos professores a respeito da inclusão social e escolar dos alunos com deficiência múltipla resultou em quatro categorias: critérios para a inclusão; impacto das deficiências nas atividades; atendimento individualizado para o deficiente múltipo; a relação família-escola e demandas familiares; as quais serão abordadas abaixo.
            Segundo os critérios para a inclusão os professores alegam que só é possível a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais menos comprometidas, descrendo na inclusão do deficiente múltiplo. Outro aspecto que impossibilita a inclusão de acordo com os professores são as condições insalubres das escolas de ensino regular bem como a falta de preparo dos professores. (SILVEIRA, NEVES, 2006).
            O impacto das deficiências nas atividades vai refletir na capacidade dos deficientes múltiplos de executarem uma atividade que precise de autonomia, reflexão, abstração e memória, onde os professores consideram impossível realizar atividades pedagógicas e descrêem no desenvolvimento e aprendizagem destas crianças. O atendimento individualizado para o deficiente múltiplo, os professores consideram que o ensino regular não possui espaço para desenvolvimento de atividades com alunos regulares e com alunos com deficiência múltipla, e consideram a dependência de cuidados práticos como dar banho um forte impedimento para o trabalho do professor. (SILVEIRA, NEVES, 2006).
            A relação família-escola e demandas familiares indicam que os professores reconhecem a importância do trabalho em conjunto com as famílias, mas alegam ter pais omissos e bastante ansiosos que transferem a responsabilidade apenas para os professores. Logo, com os dados levantados percebe-se que muitos professores não crêem na capacidade de desenvolvimento e aprendizagem destes alunos portadores de deficiência múltipla, bem como muitas vezes deixavam as crianças sem nenhuma atividade enquanto conversavam entre si. A falta de planejamento pedagógico das atividades que seriam desenvolvidas esteve presente nas observações feitas pelas autoras. (SILVEIRA, NEVES, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

             Dentro do que foi abordado nota-se que os professores de escolas de ensino regular tem representações sociais de descrença com relação à inclusão de alunos portadores de deficiência múltipla e que as escolas não possuem infra-estrutura para receber estes alunos. Este é um aspecto que esta sendo trabalhado e abordado pelas políticas púbicas as quais vem desenvolvendo programas e leis a fim de assegurar a inclusão social e escolar de portadores de deficiência.
            Uma representação que deveria ser abordada pelos professores e pela sociedade é a adotada por Vygotsky (citado por Prado, Marostega, 2010) o qual afirma que uma criança portadora de deficiência não é apenas uma criança com menos desenvolvimento que as demais, mas sim uma criança com desenvolvimento diferente. Em que a diferença não deve ser tratada como uma impossibilidade e sim como forma de superação.
            O professor bem como a família são indivíduos de extrema importância para o processo de inclusão social e escolar destas crianças, e é de responsabilidade do psicólogo e demais profissionais da saúde contribuir e auxiliar neste processo.

REFERÊNCIAS

AACD; Associação de Assistência à Criança Deficiente; et. al. Educação infantil: Saberes e práticas da inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem: deficiência múltipla. 4ª Ed. Brasília: MEC, Secretaria da Educação Especial: 2006.

JAQUES, M da G. C.; et. al. Psicologia Social Contemporânea: livro-texto. 2ª Ed. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 104-117.

NOGUEIRA, Flora Alves. A inclusão social das pessoas com deficiência no mercado de trabalho por meio da educação. Publicado em 2007. Disponível em: <http://www.redepsi. com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=789>. Acesso em 25 de novembro de 2010.

PRADO, Ana M. C. C. do; MAROSTEGA, Vera L. A Inclusão do Portador de Necessidades especiais em âmbito Social e Escolar. Disponível em: < http://www.pedago brasil.com.br/educacaoespecial/ainclusaodoportador.htm>. Acesso em 02 nov. 2010.

SILVEIRA, Flávia F.; NEVES, Marisa M. B. da J. Inclusão Escolar de Crianças com Deficiência múltipla: concepções de Pais e Professores. Psi.: Teoria e Pesquisa, Brasília, p. 79-88, 2006. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ptp/v22n1/29847.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2010.

 Karin é aluna do terceiro semestre de Psicologia.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Compartilhando artigo por Amanda Mattos: Atenção e Consciência


INTRODUÇÃO


            O presente trabalho apresenta conceitos e teorias sobre atenção e consciência, utilizando-se bibliografia básica de processos cognitivos, para entender como ocorrem estes processos em nosso organismo.

            O objetivo é pesquisar em literatura para se entender basicamente os conceitos que serão apresentados a seguir, como da consciência, da atenção, atenção espontânea e atenção ativa, processos automáticos e processos controlados, habituação e desabituação, atenção seletiva e vigilância.

ATENÇÃO E CONSCIÊNCIA


Para Sternberg, (2008 p. 78) “A atenção é o fenômeno pelo qual processamos ativamente uma quantidade limitada de informações do enorme montante de informações disponíveis através de nossos sentidos, de nossas memórias armazenadas e de outros processos cognitivos.” É um modo que nosso organismo encontra de se concentrar, por exemplo, em uma determinada tarefa, pois o tempo todo estamos expostos a estímulos externos e internos, seria muito difícil se ater a uma única tarefa se nosso organismo não “bloqueasse” estes estímulos.

Atenção é um processo psicológico mediante o qual concentramos a nossa atividade psíquica sobre determinado estímulo, seja ele interno ou externo, a fim de elaborar o pensamento. Resumidamente pode-se considerá-la como a capacidade de se concentrar, que pode ser espontânea ou ativa. “A atenção pode ser entendida como reações ao ambiente, e não como cálculos internos da intensidade real do estímulo externo.” (GUTTMAN apud FERRAZ, 2005 p. 51), nossas emoções afetam nossa percepção do ambiente, portanto modificando nossa atenção.

A atenção espontânea (vigilância) resulta de uma tendência natural da atividade psíquica, ela orienta-se para as solicitações sensoriais e sensitivas, sem interferir na consciência. E a atenção ativa (tenacidade) é voluntária, exige certo esforço, no sentido de orientar a atividade psíquica para determinado fim. Entretanto, o grau de concentração da atenção não depende apenas do interesse, mas do estado de ânimo e das condições gerais do psiquismo (CASTRO, 2002).

Hoje sabe-se que muitas das atividades que realizamos, o fazemos sem estarmos conscientes, que são os processos automáticos. Para Sternberg (2008) os processos automáticos não envolvem o controle consciente, em geral ocorrem fora do controle consciente, exigem pouco ou nenhum esforço ou mesmo intenção. E os processos controlados ocorrem no controle consciente, ele é exigido e consomem tempo, pois eles são realizados por etapas, diferentemente dos automáticos, que não exigem decisões conscientes como qual músculo mexer ou que ações exercer.

Muitas das tarefas que realizamos automaticamente, antes eram realizadas de forma controlada, consciente. Somente com o tempo ela se torna automática, em conseqüência da prática. Ressaltando que geralmente são as tarefas mais fáceis e conhecidas que são automatizadas, e os processos controlados comandam tarefas mais difíceis e relativamente novas, ainda que, com prática suficiente, mesmo tarefas muito complexas possam ser automatizadas, como por exemplo, a leitura. (STERNBERG, 2008).

Por isso que podemos nos envolver em vários comportamentos automáticos, mas raramente participar em mais de um comportamento controlado de esforço intensivo. O autor ainda frisa que os processos automáticos são muito úteis a nós, pois livra-nos de concentrar a atenção desnecessariamente em tarefas rotineiras como amarrar nossos sapatos ou discar um numero telefônico familiar.

O processamento pré-consciente são informações que atualmente estão fora de nosso conhecimento consciente, ainda pode ser acessível à consciência ou, no mínimo, aos processos cognitivos. A informação pré-consciente inclui memórias armazenadas que não estamos usando por algum tempo, mas que podemos evocar, quando necessário. Por exemplo, quando estimulada, a pessoa pode evocar com que se parece seu quarto de dormir, mas obviamente nem sempre está pensando conscientemente nele (a menos que esteja extremamente cansada, talvez) (STERNBERG, 2008).

Porém nem sempre consegue-se atrair a informação pré-consciente para o consciente, muitos de nós já experimentou o fenômeno ponta da língua, quando tentamos lembrar de algo que já sabemos, mas não conseguimos evocar-lo.

Voltando o foco sobre a atenção, nós também podemos nos habituar a determinados estímulos, cada vez mais prestamos menos atenção, é a chamada habituação, em contrapartida com a desabituação, quando um estímulo familiar leva-nos a começar a observar novamente esse estímulo. Esses processos ocorrem sem esforço consciente, são processos automáticos, portanto, usa poucos recursos da atenção.

A habituação é importantíssima no nosso dia a dia, “ela propicia muito apoio aos processos de atenção, permitindo-nos facilmente desviar nossa atenção de estímulos conhecidos e relativamente estáveis para estímulos novos e variáveis.” (STERNBERG, 2008, p. 87).

Na atenção seletiva também, pois, por exemplo, se estamos em uma festa ou em um restaurante barulhento, e precisamos entender a apenas uma pessoa, nós seguimos uma mensagem e não prestamos atenção as outras a nossa volta.

Os cientistas também estudaram a vigilância conforme Sternberg (2008 p .90), é “à capacidade de uma pessoa estar presente em um campo de estimulação durante um período prolongado, no qual ela procura detectar o aparecimento de um sinal, um estímulo-alvo de específico interesse.” Por exemplo um salva-vidas precisa estar sempre vigilante em um praia movimentada.

Pesquisas neuropsicológicas de processos atentivos sugerem que, envolve principalmente duas regiões corticais, como também o tálamo, governa também vários processos específicos que ocorrem em muitas áreas cerebrais, particularmente o córtex cerebral. “Os processos atentivos podem resultar do aumento da ativação em algumas áreas cerebrais, da atividade inibida em outras áreas do cérebro ou, talvez, de alguma combinação de ativação e inibição.” (STERNBERG, 2008, p. 107).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho aqui desenvolvido seguiu com a idéia de apresentar conceitos básicos de processos cognitivos, mais especificamente os processos de atenção e consciência, atingiu-se o objetivo de pesquisar em literatura básica sobre tais conceitos.

Pode-se dizer que a atenção é o modo pelo qual nosso organismo nos ajuda a concentrar-nos em determinada tarefa, sem nos ater a outros estímulos. Em suas várias formas, a atenção é o processo que organiza nosso foco para as tarefas, ela puxa informação para a consciência, principalmente quando é algo novo, que necessitamos ter mais atenção, pois não conseguimos realizar automaticamente.

Para tarefas mais fáceis e conhecidas os processos automáticos são muito úteis, pois exige menos esforço da consciência para sua realização, e consequentemente, menos tempo é exigido. Bem como a habituação, que nos desvia de estímulos conhecidos, para nos ater a novos estímulos.


REFERÊNCIAS


CASTRO. de E. S., FUNÇÕES PSÍQUICAS: "CONSCIÊNCIA, ATENÇÃO E ORIENTAÇÃO". Florianópolis: UFSC, 2002

FERRAZ, C. G. Consciência e Atenção: algumas considerações acerca das abordagens de William James e Aron Gurwitsch. Rio de Janeiro, 2005.

KASTRUP. Virgínia. A Aprendizagem da Atenção Na Cognição Inventiva. Rio de Janeiro: UFRJ, 2004.

STERNBERG Robert. J. Psicologia Cognitiva. 4. ed. Artmed: Porto Alegre, 2008

 Amanda é aluna do terceiro semestre de Psicologia.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Resenha de documentário por Suellen Costa

ESTAMIRA:
O nome, quando reconhecido, faz a vida resistir!

Estamira é uma mulher de 63 anos que sofre de distúrbios mentais e que, a mais de 20 anos, trabalha no aterro Sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de janeiro.
É uma mulher simples e de vida difícil que encontra no lixão a possibilidade de sobrevivência. Em seu depoimento, nos dá a impressão de que não viveria sem aquela realidade no lixão. É uma mulher tachada como “louca” pela família e médicos, mas que nos apresenta com uma lucidez incrível nas suas idéias e seus pontos de vista. Renega a Deus por diversas razões e se mostra capaz de explicar todos os fenômenos naturais e humanos de forma lúcida, eloqüente e ao mesmo tempo questionadora. Torna-se uma prova da capacidade que as pessoas têm de pensar e agir de forma contrária a padrões e, ainda assim, se manterem intelectualmente ativas.
Mostra ser uma pessoa que sofreu muito e por isso abriu mão de uma “vida social bem vista” para se dedicar a analisar o ser humano e suas atitudes, e a questionar a real existência de um Deus. E foi no lixão, em meio a outros catadores, que passou a encontrar respostas para muitas das suas indagações e críticas.
Diz ter uma missão: “Além de eu ser Estamira, minha missão é revelar a verdade”. Afirma com muita convicção que não existem inocentes, que o que existem são espertos ao contrário. Nos deixa a impressão de que fala a respeito daqueles que se dizem inocentes apenas para se sentirem numa posição mais confortável e favorável. Diz ser ela mesma a “visão de cada um”. “Ninguém pode viver sem mim. Ninguém pode viver sem Estamira”. Coloca-se no foco e quer levar as pessoas a entender as coisas da mesma forma que ela entende, de forma crítica e analítica, colocando o ser como único responsável pelo próprio ser. “A criação toda é abstrata. O espaço inteiro é abstrato. A água é abstrata. O fogo é abstrato. Tudo é abstrato. Estamira também é abstrata”. Faz uma comparação entre o ser de carne, sangue e nervos e a eletricidade, com os fios que conduzem a energia, nos querendo dizer que, da mesma maneira que o homem domina a eletricidade e a energia, quer dominar também o próprio homem. Afirma que “quem tem deficiência mental é imprestável. Perturbação não é deficiência, perturbação é perturbação”.
Em suas indagações, seus períodos de “delírio”, diz muitas coisas que nós, considerados mentalmente sãos, não temos coragem de dizer ou questionar. Mostra que apesar do desequilíbrio em que vive, tem uma visão da realidade cotidiana da sociedade. Quando cita o lixo como resultado do resto e do descuido, traz a realidade de uma sociedade que vive do exagero, do consumismo e da negligência. Faz distinções importantes entre trabalho e sacrifício, entre o ser ruim e o ser perverso, entre ser doente mentalmente e a perturbação, entre o homem ímpar e a mulher par, entre os espertos e os espertos ao contrário, entre o além e o ”além dos aléns”.
Expõe sua indignação dizendo que a culpa é do “hipócrita, mentiroso, esperto ao contrário, que joga a pedra e esconde a mão”. Diz ser perfeita: “Eu sou perfeita. Meus filhos são comuns”. Se mostra revoltada em haver tanto sofrimento e luta pela conquista do alimento: “Foi combinado alimentar o corpo com o suor do próprio rosto, não com sacrifício. Sacrifício é uma coisa, trabalhar é outra coisa. Trabalhar sim, não sacrificar”. “Discorda dos diagnósticos médicos dizendo que são “meros copiadores”: “Vocês não aprendem na escola, vocês copiam. “Vocês aprendem é com as ocorrências”. Fala também a respeito da falta de segurança enfrentada no dia-a-dia. “Onde já se viu uma coisa dessas? A pessoa não pode andar nem na rua que mora, nem trabalhar dentro de casa e nem em trabalho nenhum, em lugar nenhum”.
Seu outro alvo é Deus. É extremamente fascinante sua reação quando é questionada sobre Ele. “Que Deus é esse, que Jesus é esse que só fala em guerra? Quem já teve medo de dizer a verdade largou de morrer? Quem anda com Deus, noite e dia, largou de morrer? Quem fez o que ele mandou, largou de morrer? Largou de passar fome? Largou de miséria?” Na sua concepção, quem fez Deus foram os homens.
Tem sua indignação marcada pelas experiências vividas desde a infância difícil, adolescência marcada pelo abuso sexual e prostituição, forçada pelo próprio avô, primeiro casamento mal sucedido por traições e problemas com alcoolismo, um segundo casamento também destruído pela traição e falta de consideração respeito e ainda, abuso sexual na rua onde mora. São relatos de uma vida sofrida, marcada e frustrada, por acreditar no ser que se diz humano e que acaba levando o próprio ser humano à decadência e desgraça total. E agora tem sua oportunidade de expor as coisas com uma visão de “quem vê de dentro”.  Acaba por ver o “ser humano como único condicional”, talvez como único responsável por tudo que acontece, seja bom ou ruim, e único capaz de mudar a direção com que as coisas acontecem. Como cita Estamira "conservar as coisas é proteger".
 
ESTAMIRA. Direção: Marcos Prado. Produção: Marcos Prado e José Padilha. Brasil: Riofilme, 2006. 1 DVD.

 Suellen é aluna do nono semestre de Psicologia.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Resenha Crítica de filme por Ana Paula Girolla: Juno!

Gravidez na Adolescência
             Juno é um filme canadense de 2007, dirigido por Jason Reitman e escrito por Diablo Cody, ganhou Oscar por ter o melhor roteiro. O filme se baseia em torno de Juno, uma adolescente de 16 anos que engravidou de maneira inesperada, de um amigo da escola e acabou engravidando na primeira relação sexual que tiveram. Em um primeiro momento Juno decide fazer um aborto, mas ao chegar à clínica acaba mudando de idéia. Com a ajuda de uma amiga e com o apoio de seus pais, Juno procura em jornais um casal para adotar seu filho assim que ele nascesse. Dessa forma, acabou conhecendo Vanessa e Mark, achava Juno que eles eram um casal bem estruturado e com boas condições financeiras para criar seu bebê.
            Este filme traz a idéia que os adolescentes estão começando sua vida sexual muito precocemente, mal saem da infância e já estão tendo relações com seus parceiros ou até mesmos com pessoas que nem conhecem direito. Não existe uma idade certa para iniciar a vida sexual, mas é preciso primeiro crescer e se desenvolver para dar início à vida sexual, que é um direito de todos, nunca deixando de esquecer, que os direitos sempre vêm acompanhados de obrigações, como a prevenção de doenças e a gravidez indesejada.
            Hoje a sociedade tem uma visão de que os adolescentes estão bem informados, mas quando o assunto é sexo existem muitas dúvidas, desde como se prevenir de doenças sexualmente transmissíveis até a forma de como eles devem se comportar em determinadas situações. O adolescente não tem informações suficientes sobre sexualidade, à mídia até pode trazer algo de importante, mas muitos de seus conteúdos acabam contribuindo para a desinformação.
            O relacionamento com os pais é de respeito, acabam não tendo uma abertura para um diálogo, no momento em que deveriam ter uma conversa com os pais não tiveram e acabam conversando apenas depois que já tiveram a primeira relação sexual para contar da gravidez que acabou acontecendo talvez por falta de conversa. Como mostra o filme, a gravidez na adolescência acaba rompendo muitos planos, pois ter um filho é uma responsabilidade muito grande. Na maioria das vezes os adolescentes não estão preparados para receber uma criança, nem fisicamente muito menos financeiramente e acabam querendo colocar seu filho para adoção ou até mesmo acabam abortando.
            Uma adoção é considerada legal quando passa por todos os procedimentos necessários exigidos pela comarca e juízes, sendo que sua principal preocupação é com o bem estar e segurança da criança que será adotada. O processo é longo, onde profissionais responsáveis fazem entrevistas e visitas, sempre com o objetivo de fornecer todos os dados possíveis sobre a família que irá adotar a criança.
            Juno nos traz no filme a idéia do aborto, este é um ato bastante delicado até mesmo nos EUA, que defendem o direito da mulher abortar, mesmo sabendo que este ato é uma forma de matar um ser humano eles defendem, mas ainda encontram-se muitas pessoas nos EUA contraditórias a essa idéia.
            A gravidez na adolescência é causada por várias implicações como falta de informações, e até mesmo por jovens agirem por impulso e acabam tendo sua primeira relação sexual sem prevenção. Com esse descuido acabam interrompendo sua liberdade mais cedo, tendo assim um bebê para cuidar e muitas responsabilidades para enfrentar.

JUNO. Direção: Jason Reitman. Produção: Chris Gorak. 2007.
Ana Paula é aluna do sétimo semestre.