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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Compartilhando artigos: Karin Beskow


INCLUSÃO SOCIAL E ESCOLAR DE PORTADORES DE DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA: a questão das representações sociais dos professores de escolas públicas

INTRODUÇÃO

            Este trabalho tem como objetivo abordar as representações sociais de professores de escolas públicas em relação à inclusão social e escolar de alunos portadores de deficiência múltipla.
Segundo o MEC (citado por Silveira, Neves, 2006) a inclusão escolar do deficiente múltiplo é um fato muito recente na educação brasileira. Vygotsky (citado por Prado, Marostega, 2010) afirma que “o ser humano cresce num ambiente social e a interação com outras pessoas é essencial a seu desenvolvimento”. A criança com necessidades especiais precisa desta interação para se desenvolver de maneira adequada, para que estas interações sejam propulsoras de mediações e conflitos necessários para o desenvolvimento pleno do indivíduo e para a construção dos processos mentais superiores. (SILVEIRA, NEVES, 2006).
Serão abordados alguns conceitos a fim de melhor entender as representações sociais dos professores com relação à inclusão social e escolar, será abordado o conceito de inclusão social e escolar, a definição de deficiência múltipla e de representações sociais.
           
CONTEXTUALIZAÇÃO

            A luta pelos direitos das pessoas portadoras de deficiência iniciada na década de 80, fez com que a prática da inclusão social se tornasse mais presente, porém notou-se que a integração era insuficiente para o contexto em que se vivia; com isto considerando que a diferença está ligada ao ser humano e a considerando como algo natural em que cada ser pode usar os seus direitos coletivos na sociedade, surge um novo conceito chamado de inclusão. (PRADO, MAROSTEGA, 2010).
            O conceito de inclusão social é um processo em que a sociedade se adapta para que possa incluir nos seus sistemas sociais as pessoas com necessidades especiais e ao mesmo tempo estas se preparam para assumir os seus papéis na sociedade. (SASSAKI apud PRADO, MAROSTEGA, 2010). Portanto incluir os portadores de necessidades especiais é torná-los participantes da vida social, política, econômica e educacional garantindo o respeito de seus direitos em todos os âmbitos.
            A deficiência múltipla é caracterizada pela associação de duas ou mais deficiências, seja física, mental, sensorial, psíquica ou emocional, porém não é apenas esta associação que vai caracterizar a deficiência múltipla, e sim o nível de interação social, de desenvolvimento e aprendizagem destes sujeitos. (AACD, et. al., 2006).
            “O desempenho e as competências dessas crianças são heterogêneos e variáveis”. (AACD, et. al., 2006, p. 11). Alguns alunos portadores têm maiores possibilidades de adaptação e são mais facilmente inseridos em escolas de ensino regular através da adaptação curricular destas instituições, outros, porém que tem mais dificuldades e podem necessitar de apoios intensos e contínuos, processos diferenciados de ensino, e alteração no currículo escolar a fim de atender as necessidades da classe comum. (AACD, et. al., 2006).
            Para que esta criança possa ter um bom desempenho é necessário que os professores estejam capacitados e preparados para lidar com as dificuldades apresentadas. Porém para que este processo de aprendizagem possa ser realizado de maneira correta é necessária a presença do psicólogo, o qual deve estar presente na escola e instituições em que este indivíduo será inserido a fim de trabalhar conceitos e pré-conceitos já formados ou adquiridos pela sociedade. Além disto, é de responsabilidade do psicólogo trabalhar junto com a equipe pedagógica / educacional, ajudando e orientando para que a realização de um trabalho em equipe possa promover o desenvolvimento e socialização da criança com deficiência múltipla. (NOGUEIRA, 2007).
            Estes conceitos da vida cotidiana a respeito da inclusão social podem ser definidos como a representação social sobre a inclusão. A representação social pode ser caracterizada como um conjunto de conceitos da vida cotidiana, que são mitos e crenças tradicionais da sociedade e também podem ser chamados de senso comum. (MOSCOVICI apud JAQUES, 1998).
            Existem vários elementos que estão presentes na noção das representações sociais (RS) onde Guareschi (citado por Jaques, 1998) afirma que as RS são sociais e que estes elementos que são aspectos culturais, cognitivos, ideológicos e valorativos estão presentes nos sujeitos e objetos. Contudo podemos dizer que quem melhor conceituou as RS foi Jodelet (citado por Jaques, 1998), que definiu as RS como uma forma de conhecimento que é elaborada e compartilhada socialmente a fim de construir uma realidade comum para o conjunto social.
            De acordo com a pesquisa realizada por Silveira e Neves (2006), sobre a representação social dos professores a respeito da inclusão social e escolar dos alunos com deficiência múltipla resultou em quatro categorias: critérios para a inclusão; impacto das deficiências nas atividades; atendimento individualizado para o deficiente múltipo; a relação família-escola e demandas familiares; as quais serão abordadas abaixo.
            Segundo os critérios para a inclusão os professores alegam que só é possível a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais menos comprometidas, descrendo na inclusão do deficiente múltiplo. Outro aspecto que impossibilita a inclusão de acordo com os professores são as condições insalubres das escolas de ensino regular bem como a falta de preparo dos professores. (SILVEIRA, NEVES, 2006).
            O impacto das deficiências nas atividades vai refletir na capacidade dos deficientes múltiplos de executarem uma atividade que precise de autonomia, reflexão, abstração e memória, onde os professores consideram impossível realizar atividades pedagógicas e descrêem no desenvolvimento e aprendizagem destas crianças. O atendimento individualizado para o deficiente múltiplo, os professores consideram que o ensino regular não possui espaço para desenvolvimento de atividades com alunos regulares e com alunos com deficiência múltipla, e consideram a dependência de cuidados práticos como dar banho um forte impedimento para o trabalho do professor. (SILVEIRA, NEVES, 2006).
            A relação família-escola e demandas familiares indicam que os professores reconhecem a importância do trabalho em conjunto com as famílias, mas alegam ter pais omissos e bastante ansiosos que transferem a responsabilidade apenas para os professores. Logo, com os dados levantados percebe-se que muitos professores não crêem na capacidade de desenvolvimento e aprendizagem destes alunos portadores de deficiência múltipla, bem como muitas vezes deixavam as crianças sem nenhuma atividade enquanto conversavam entre si. A falta de planejamento pedagógico das atividades que seriam desenvolvidas esteve presente nas observações feitas pelas autoras. (SILVEIRA, NEVES, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

             Dentro do que foi abordado nota-se que os professores de escolas de ensino regular tem representações sociais de descrença com relação à inclusão de alunos portadores de deficiência múltipla e que as escolas não possuem infra-estrutura para receber estes alunos. Este é um aspecto que esta sendo trabalhado e abordado pelas políticas púbicas as quais vem desenvolvendo programas e leis a fim de assegurar a inclusão social e escolar de portadores de deficiência.
            Uma representação que deveria ser abordada pelos professores e pela sociedade é a adotada por Vygotsky (citado por Prado, Marostega, 2010) o qual afirma que uma criança portadora de deficiência não é apenas uma criança com menos desenvolvimento que as demais, mas sim uma criança com desenvolvimento diferente. Em que a diferença não deve ser tratada como uma impossibilidade e sim como forma de superação.
            O professor bem como a família são indivíduos de extrema importância para o processo de inclusão social e escolar destas crianças, e é de responsabilidade do psicólogo e demais profissionais da saúde contribuir e auxiliar neste processo.

REFERÊNCIAS

AACD; Associação de Assistência à Criança Deficiente; et. al. Educação infantil: Saberes e práticas da inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem: deficiência múltipla. 4ª Ed. Brasília: MEC, Secretaria da Educação Especial: 2006.

JAQUES, M da G. C.; et. al. Psicologia Social Contemporânea: livro-texto. 2ª Ed. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 104-117.

NOGUEIRA, Flora Alves. A inclusão social das pessoas com deficiência no mercado de trabalho por meio da educação. Publicado em 2007. Disponível em: <http://www.redepsi. com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=789>. Acesso em 25 de novembro de 2010.

PRADO, Ana M. C. C. do; MAROSTEGA, Vera L. A Inclusão do Portador de Necessidades especiais em âmbito Social e Escolar. Disponível em: < http://www.pedago brasil.com.br/educacaoespecial/ainclusaodoportador.htm>. Acesso em 02 nov. 2010.

SILVEIRA, Flávia F.; NEVES, Marisa M. B. da J. Inclusão Escolar de Crianças com Deficiência múltipla: concepções de Pais e Professores. Psi.: Teoria e Pesquisa, Brasília, p. 79-88, 2006. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ptp/v22n1/29847.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2010.

 Karin é aluna do terceiro semestre de Psicologia.

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