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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Compartilhando artigos: Gean Ramos

UMA CAMINHADA PELA LOUCURA ATRAVÉS DOS TEMPOS

INTRODUÇÃO

O tema da loucura, e do sujeito dito louco, é abordado nesse trabalho de forma histórica, considerando alguns dos principais movimentos e pensadores ligados ao tema. Assim como, as reformas ocorridas no campo da saúde mental ao redor do mundo e o desfecho dessas mudanças de paradigma nas políticas públicas de saúde aqui no Brasil.


O DITO LOUCO ATRAVÉS DOS TEMPOS

A visão que os estudiosos em saúde mental têm do indivíduo dito “louco” nos dias atuais é resultado de uma longa jornada de reflexões e movimentos sociais e políticos ocorridos no decorrer da história. Muitos foram - e infelizmente ainda o são em alguns casos - os métodos utilizados para classificar, “tratar”, e de forma geral lidar com esses sujeitos através dos tempos. Na maioria das vezes métodos cruéis, sem a obtenção de resultados que proporcionassem uma melhora para a condição de vida desses sujeitos, muito menos sua (re)integração ao grupo social; respondendo apenas a uma lógica higienizadora de cidades. Muito se pensou acerca do tema da loucura, e muitas formas de interpretar esse tema foram elaboradas. Pereira (2002) coloca que quando tentasse conceituar loucura geralmente o que se leva em conta é a idéia de que tais sujeitos compreendem um desvio dos padrões normais de conduta; enfatizando que tal concepção sempre é embasada em uma comparação entre o normal - o racional e saudável - em contraponto ao louco, ao doente mental. O mesmo autor propõe que a classificação da doença mental está intimamente ligada aos padrões de conduta e regras estabelecidos para uma determinada cultura, em determinada sociedade. Em resumo, Pereira diz que o que é considerado loucura aqui, em nossa sociedade ocidental, pode ser considerado um dom divino em alguma outra cultura, por exemplo, as que possuem um chamã como sendo um líder espiritual de grande importância para aquele povo. “[...] dizer que há modelos sociais de loucura significa que o indivíduo não enlouquece segundo seus próprios desígnios, mas segundo um quadro previsto pela cultura da qual é membro” (PEREIRA, p. 29, 2002).
      No âmbito histórico podem ser apontados alguns períodos e lugares onde iniciaram os processos de institucionalização e exclusão de uma grande quantidade de personagens sociais, tais como: alquimistas, portadores de doenças venéreas, libertinos de toda espécie e mendigos. Enfim, todos aqueles que estivessem fora dos padrões concebidos e aceitos pela classe dominante da época. Na França, por exemplo, em meados do século XVII, inicia-se essa separação entre os possuidores da razão e os ditos loucos, ou todos aqueles que poderiam por em jogo as proibições sexuais e religiosas vigentes. A loucura é aprisionada sobe o julgo da razão, e é através do olhar mecanicista proposto por essa razão vigente que a loucura será apontada como doença, defeito e falta.  Segundo Foucault (1972), a forma pela qual eram tratadas doenças como a Lepra, que excluíam o indivíduo do meio em que vivia por temê-lo, foi um dos fatores que fizeram surgir mais tarde a idéia de que existe uma necessidade de internação, de exclusão do dito “louco” do ambiente social em que ele vive.
Nessa época em que a igreja possuía os poderes e ditava a verdade, as doenças eram consideradas castigos divinos, e as graças suas bênçãos. A exclusão do individuo portador da “doença” era considerada uma forma de salvação, uma benção, já que assim, ele teria a chance de redimir-se dos seus pecados (FOUCAULT, 1972).
É difundido nesse período a idéia de que os loucos, ou qualquer outro sujeito que não fosse considerado “normal” deveriam ser isolados do restante da sociedade, para que assim fosse garantida a segurança no meio externo ao manicômio, satisfazendo a vontade da classe burguesa com o poder dominante naquele período (PEREIRA, 2002).
            Pereira (2002) aponta ainda que, até o século XIX é aplicada uma forma dominante de conhecimento, que é a do saber psiquiátrico, da razão estreitamente dominadora no campo da loucura, e essa razão dominadora - se pensava - era a única hábil e responsável para lidar com os “insanos” que lotavam os asilos.
Após esse período de total dominação do saber psiquiátrico sobre a loucura, já no final do século XIX e inicio do século XX, começam a surgir pensadores do próprio campo da medicina e também da filosofia que, propunham um novo olhar sobre a forma de lidar com o tema da loucura e com os próprios sujeitos que eram acometidos de sofrimento psíquico. Podemos citar Freud, quando demonstra que ao nível individual toda produção mental tem um sentido, consciente ou não.
Pensadores como Franco Basaglia, que foi muito influente para o movimento de transformação da pratica no âmbito da psiquiatria, principalmente no que diz respeito à luta contra a institucionalização, e da ênfase na consciência das transformações resultantes da pratica efetiva de luta nos campos político e social (AMARANTE, 1994).
Franco Basaglia foi um dos grandes responsáveis pela luta anti-manicomial. Alguns de seus objetivos eram (AMARANTE, 1994): A luta contra a institucionalização; A luta contra a tecnificação, para que não sejam criadas com isso, novas técnicas de intervenção para substituírem as já existentes e combatidas; A invenção e constituição de uma relação de contrato social; A difusão da idéia de que a consciência das transformações advém da prática efetiva de luta nos campos político e social.
Principalmente nas décadas de 70 e 80, começaram a surgir em todo o mundo movimentos chamados de Novos Movimentos Sociais (NMSs). São movimentos que tem por principal objetivo denunciar as formas cotidianas de opressão. De forma geral, os NMSs contribuíram para a valorização da subjetividade, das diferenças, da cidadania e da emancipação, indo contra a idéia de regulação e padronização social (GUIMARÃES, et al. 2001).
A partir daí então foram aprovadas as portarias 189/91 e 224/92, viabilizando assim que o sistema único de saúde (SUS) possa financiar vários procedimentos de atenção em saúde mental que fossem substitutivos ao modelo hospitalocêntrico, manicomial. Integrando ao SUS, estão os CAPs (centros de atenção psicossocial), assim como os NAPs (núcleos de atenção psicossocial) que, regulamentados pela portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002, reconheceu e ampliou o funcionamento e a complexidade dos CAPS, que têm a missão de dar um atendimento diuturno às pessoas que sofrem com transtornos mentais severos , oferecendo cuidados clínicos e de reabilitação psicossocial (BRASIL, 2004).


CONSIDERAÇÕES

Bom, finalmente o dito “louco” chegou a um lugar sem camisa-de-força ou eletro-choque, sem água gelada na cara ou imundices, sem sofrimento de toda espécie, mas, será mesmo que ninguém ficou pelo caminho? Será que todo o sofrimento cessou? A caminhada foi longa, as vitórias foram muitas, porém, infelizmente ainda existem lugares onde a loucura ainda não cessou, pois a loucura nesses locais é realimentada a cada instante, no isolamento, no esquecimento, na simples e cruel condição de ser mais um excluído do convívio com aqueles, que autodenominando-se “normais”, e se esquecem que é dever de todos lutar para a melhoria continua das condições de vida, não somente a própria, mas também a do outro, pois afinal de contas somos todos humanos e merecemos igualmente um tratamento digno e de respeito.
O papel do profissional de saúde mental nesse sentido é o de promover junto à população, um trabalho de reinserção social dos usuários, dos “loucos”. Isso permitindo a tais o acesso ao trabalho, lazer, direitos civis e fortalecimento das relações familiares e na comunidade onde vive.


REFERÊNCIAS:

AMARANTE, Paulo. Uma aventura no manicômio: a trajetória de Franco Basaglia. Hist. cienc. saude-Manguinhos,  Rio de Janeiro,  v. 1,  n. 1, Out.  1994 .   Disponivel em: . Acesso em: 17  abril.  2011.  doi: 10.1590/S0104-59701994000100006.

AMARANTE, P.; TORRE, E. H. G. A constituição de novas práticas no campo da Atenção Psicossocial: análise de dois projetos pioneiros na Reforma
Psiquiátrica no Brasil. Rer. Saúde em debate, Rio de Janeiro, ano XXV v.25 n.58 maio/ago. 2001. Disponível em:<http://www.cebes.org.br/media/File/publicacoes/Rev%20Saude%20Debate/Saude%20em%20Debate_n58.pdf#page=7>. Acesso em: 18 abril. 2011.

BRASIL. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério  da Saúde, 2004.

FOUCAULT, M. A história da loucura na idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 1972.

GUIMARÃES, et al. Desinstitucionalização em Saúde Mental: considerações sobre o paradigma emergente. Rev. Saúde em debate, Rio de Janeiro, ano XXV v.25 n.58 maio/ago. 2001. Disponível em:

PEREIRA, J. F. O que é loucura. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 2002.




Gean é aluno de Psicologia do quinto semestre.

2 comentários:

  1. Que fala apaixonada Companheiro...

    Espero que possas trabalhar na área, sinceramente.

    Sina.

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  2. Eu sou suspeita para falar...

    Mas Gean,muito bom seu artigo. É um tema de extrema importância para nós, futuros psicólogos.

    Abraços,
    Claudia.

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